sexta-feira, 29 de junho de 2007
Invasão
Sentia seu coração palpitar docemente
Diante da sorridente noite que
Nascia quente como seu
Ventre no cio.
Sentia doer-lhe o corpo
Como se sustentasse toda
Feminilidade do mundo
E a pele, tal qual um balde
De gelo, transpirava
Fria e profusamente.
Sentia que todo entendimento
A invadia devastando todo mistério
Não queria saber-se folha seca,
Ainda mais agora que finalmente
Descruzara os braços para
Captar a desordem de tudo.
Percebia-se como existente no momento
Que suas indagações foram aceitas
Diante de seus olhos afogueados...
Imagem: Jorge Jacinto
quinta-feira, 28 de junho de 2007
Rebuscado
Em sua inventiva idiomática,
A cintilante inteligência e
Sensibilidade de suas
Explanações e percepções,
A audácia e maestria de seus
Produzem intermináveis
Discursos de impenetrável
Ilegibilidade.
Somente a burocracia
Cultural universitária e de
Intelectuais famintos de
Dificuldades arbitrárias
Que se prestam à aplicação
O apreciam sem restrições.
Os mortais – nós,
Comuns apreciadores-
Esforçamos-nos,
Bocejamos e
Preferimos mesmo
Os que sabem a arte
De simplesmente dizer!
Imagem: Piotr Kowalik
quarta-feira, 27 de junho de 2007
Deliberando...
Quão nada se tornaria?
Sentiu-se adormecer dando boas vindas ao tudo e adeus ao nada que ficou...
Patrícia Gomes
Imagem: Rebecca Parkes
Borboletice
segunda-feira, 25 de junho de 2007
Sacrário
Sagrei-me capitã de
Sonhos tantos
Uns tortos,
Outros insanos
Sonhos vivos,
Rotos,
Meus...
Sangrei-me à procura
De passos que marcassem o
Caminho ao lado dos meus
Passos rasos pouco ficaram
Sorri ao perceber que
Templo sou e em mim,
Tal qual Rimbaud
Tornei toda desordem
Sagrada...
Patrícia Gomes
sábado, 23 de junho de 2007
Utopia
sexta-feira, 22 de junho de 2007
Denguinho
Ele é geminiano
Como a metade que tenho
É ranzinza e inquieto
Tal qual a metade que tenho
Ele é problemático e silencioso
Assim como a metade que tenho
É irritante e intransigente
Da mesma forma que a metade que tenho
É maluco e me ama
Como a louca metade que tenho
Ele é senhor de um campo vasto
Da vida que tenho
Como poucos...
Como poucos!!
quarta-feira, 20 de junho de 2007
Achando a Perdida Bala
Ela pensava na própria morte e
Em como ela se faz consorte
Fiel e constante.
A cada dia nos enreda mais e mais
Nos faz navegar em águas mansas
E tantas vezes densa...
Outro dia dizia da própria morte:
Se é pra morrer de vez
Que seja suave, sem aviso
Sem lamúrias
No barulho do
Meio da rua
Bagunçando ainda mais
O caótico trânsito.
Se for pra morrer que seja assim
Um modo tão bonito de partir...
Queira Deus que, ao abreviar
Os meus dias, o faça
Com uma bala perdida...
Patrícia Gomes
Aventurar desejos
Queria agora que
Teu beijo se aventurasse
Pelo meu corpo inteiro
Percorrendo absorto
Meus pêlos e montes
Escalasse sem receios os
Picos intumescidos dos
Meus seios e
Explorasse tranqüila
E urgentemente o vale
Que nasce em meu ventre
Saciando sua sede na
Nascente dos meus segredos...
Patrícia Gomes
terça-feira, 19 de junho de 2007
Seria a Rotina?
Temia o medo que sentia, pois sabia quanto mal lhe fazia, mas temia assim mesmo. Seria mais uma de suas rotinas? Gostava de cultivá-las e não se adaptava facilmente às mudanças, ainda mais às emocionais. Sentia falta de não dormir. Jamais imaginou isso, mas queria de volta os sorrisos parcos nas fartas madrugadas...
Patrícia Gomes
sexta-feira, 15 de junho de 2007
Solidão... Solução...
terça-feira, 12 de junho de 2007
Ainda hoje lhe digo
Hoje queria cobrir-te de girassóis, fazer de sua cama nosso jardim, mas Ele, o Silêncio, fez lágrimas escorrem em mim, vindas de um recanto nada manso e às vezes tão límpido que seu negror exulta.
Hoje queria corbrir-te em um manto de sorrisos, ser inteira em tua retina, mas ele encerrou-me no quarto diante de cortinas cerradas e de um azul pálido, empalidecendo as lágrimas que sentia.
Hoje, ao fim desse dia onde tudo, pra muitos, foi pura magia, pra outros esperança e ilusão, hoje que era um dia que eu muito queria, consegui dizer-te tão pouco e amiúde...
Mas hoje, ainda, nessa réstia de dia, que eu possa te fazer ciente do que queria, e assim digo-te somente e todavia: Amo-te, com a alma e a vida!
Parada gay - Desabafo
É uma pena que a falta de preconceito com relação a opção sexual tenha apenas um dia marcado no calendário como um carnaval marginal..
É uma pena que a maioria só permita que a máscara da hipocrisia caia apenas uma vez ao ano..
É uma pena que tantos beijos loucos, castos e urgentes tenham apenas um dia para serem permitidos livremente sem o assombro dos outros nas ruas.
É uma pena que apenas um dia as pessoas se sintam livres para serem quem são fora de seus guetos...
Patrícia Gomes
Imagem: Folha de São Paulo
segunda-feira, 11 de junho de 2007
sexta-feira, 8 de junho de 2007
Lamúria
quinta-feira, 7 de junho de 2007
Diariamente
terça-feira, 5 de junho de 2007
Verte
Despedida - Cecília Meireles
que está onde as outras coisas nunca estão
deixo o mar bravo e o céu tranqüilo:
quero solidão.
Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
E como o conheces ? - me perguntarão. -
Por não Ter palavras, por não ter imagem.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.
Que procuras ?
Tudo.
Que desejas ?
Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão.
A memória voou da minha fronte.
Voou meu amor, minha imaginação ...
Talvez eu morra antes do horizonte.
Memória, amor e o resto onde estarão?
Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão !
Estandarte triste de uma estranha guerra ... )
Quero solidão.
Cecília Meireles